Frio, agreste, a rebentar
Vê-se uma luz esperançosa
Esverdeadamente receosa
Triste e gelada de medo
Lentamente rutila e sua
Ora faísca tarde, ora cedo
Escorre na própria imagem nua
Um azul tenebroso
Abafa a pobre luzinha
Abana-a e, mareando manhoso
Arrasta a pobre sozinha
Mas aí, milagre certo
Quanto mais fundo, mais perto
de nós parecia a luz brilhar
acendia submersa
refulgia ao luar
Quando para baixo a forçavam
Ela sem nada temer
mergulhava e, bem imersa
Fazia o colosso tremer
Inflamou-se-lhe a alma
saltou-se-lhe o coração
Todo o mar estava feito
Num imenso, lento clarão
Qual nafta em combustão
A todos maravilhou
Num espetáculo p'rá visão
Certo é que jamais cessou
E a luzinha, leda e triste
Continuou em posição
Sempre atenta, pavio em riste
nunca a silenciarão
Miguel Padrão (11.º A1)