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Esta página está disponível para consulta das notícias e outros artigos, que foram sendo publicados ao longo dos cerca de 15 anos em que esteve ativa, até Julho de 2023,  quando foi substituída pela atual página principal da EPM-CELP, de modo a manter vivo este registo histórico da Instituição.

8 marçoNo Dia Internacional da Mulher, celebrado a 8 de março, três mulheres com histórias de vida e percursos diferentes juntaram-se aos alunos do Ensino Secundário da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) para partilharem suas vidas e falarem das existentes (con)tradições na busca pela liberdade e pela igualdade de género. Para além de se celebrar o notável avanço na luta pelos direitos das mulheres, procurou-se igualmente descortinar o sentido de “lugar” da mulher na sociedade e o medo devido às intensas violações físicas, sexuais, morais, emocionais…

Subordinada ao tema “(Con)tradições: Trilhando caminhos rumo à construção sustentável de uma identidade de género”, a sessão iniciou com um enquadramento histórico, seguido de uma declamação de poesia sobre a figura feminina na sociedade e partilha de experiências de duas alunas do movimento estudantil Unidos Pelo Ambiente (UPA), que muito fazem pela consciencialização e valorização do meio ambiente entre a comunidade educativa.

Seguiram-se, então, testemunhos comoventes de quem sente o peso, os traumas e os medos de ser mulher. Eduarda Pereira Cipriano considera-se uma “profissional do desenvolvimento”, tendo em perspetiva o seu percurso de mais de 40 anos de trabalho e, embora com uma visão holística sobre o problema, para ela não existem direitos da mulher: “Existem direitos humanos!”.

Membro de várias organizações, dentre elas a FDC, onde foi diretora de programas durante cerca de 10 anos, o ROSC (Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança), a Associação NGUNI, Global Leaders for ECD, entre outras, Eduarda acredita que os direitos devem ser pela Humanidade. Os direitos são os primeiros presentes de vida que recebemos, por isso, é preciso lutar para que ninguém no-los tire. E, num mundo de egoísmo, de exploradores, o cidadão ativo é o único que pode fazer com que as organizações internacionais e os governos cumpram as suas obrigações e promessas”.

Este dinamismo, segundo disse, deve ser exercido dentro das normas e dos interesses sociais. Ou seja, a consciencialização para uma sociedade mais justa, mais íntegra e mais tolerante é dever de todos. E argumenta: “A sociedade desempenha um papel importante na mudança comportamental e na edificação de pessoas que respeitam o outro, homem e mulher. É na sociedade que começa a discriminação, quando os pais definem trabalhos de meninas e de meninos. É em casa onde se ensina que uma mulher é menos importante que um homem. Por isso, as leis tornam-se determinantes quando a sociedade não é ativa e não sabe o que quer”.

Na lógica das tradições, vistas como amuletos para subalternar a figura da mulher, a ativista reiterou que o lobolo – casamento tradicional, muitas vezes visto como sinónimo de troca, ou seja, de compra de uma mulher por parte da família do homem – não pode servir de base para a exploração desta. “A mulher não é um objeto. O lobolo é uma tradição que visa unir as duas famílias”, disse Eduarda para quem “É preciso estudarmos bem fundo algumas normas, sob pena de sermos explorados por falta de conhecimento”.
8 março 2Berta de Nazareth é outro rosto, outra alma que esconde dor, lágrimas e medos pelo simples facto de ser mulher. É ativista social, formada em sociologia pela Universidade Pedagógica, consultora de género e coordenadora geral do programa de Género na Associação Sociocultural Horizonte Azul, desde 2016, desenvolvendo ações de facilitação e interação com grupos de raparigas e rapazes.

A sua história começa aos 9 anos de idade quando perdeu a sua mãe, vítima de feminicídio, um tipo de crime de ódio baseado no género. A partir daí, iniciou a luta pelos direitos das mulheres, pois não queria que estes casos voltassem a acontecer e nem que ela fosse a próxima vítima, tal como “Acontece atualmente neste país. Há uma onda de desaparecimentos de mulheres – adolescentes e jovens – que terminam em notícias tristes: violadas sexualmente e mortas. Isto assusta-nos. Parece até que a noite não nos pertence. Mas é verdade, a noite foi feita para mulheres”, disse intrigando os alunos com a partilha de opiniões.

No estudo divulgado no início deste março, o Observatório das Mulheres de Moçambique afirmou que já registou mais de 41 casos de feminicídio em 2023, números que espelham, na sua maioria, casos de violação sexual por parte de familiares, amigos e vizinhos. Por isso, para Berta, urge a necessidade de construção e consolidação da ideia de que a “Mulher controla o seu corpo, a sua roupa e seus desejos, pois, sempre que uma mulher é violada, perguntam sempre sobre o que estava a fazer na rua sozinha, o que tinha vestido. Essa ideia tira-nos do lugar de vítimas, como se uma parte do mundo, das roupas, das liberdades não nos pertencesse”.

Todas numa perspetiva de revolução, de aceitação e integração social sem condicionamentos, as três ativistas encontram, cada uma no seu ramo, um estilo e uma forma de influenciar a sociedade.
8 março 4É igualmente o caso de Carmen Miral. Diz-se empreendedora, mas o seu trabalho passa pela consciencialização sobre o poder da “naturalidade” do ser africano, através do cabelo. É fundadora de um salão cabeleireiro à base de produtos naturais e locais, Black Khakhela Spot, e uma linha de cosméticos naturais, Black Khakhela Products, que são uma forma de expressar a mesma visão do empoderamento, valorização e educação sobre o cabelo natural.

Durante a conversa, confessou que tudo o que ela faz tem um impulso e iniciativa para melhorar a sua comunidade onde o público-alvo são crianças e jovens com necessidade de aprender mais sobre a valorização cultural e do cabelo e pele natural.

Tratou-se de uma sessão rica, de uma celebração intensa, plena de significados e mensagens fortes em torno da, cada vez mais, urgente afirmação da Mulher no âmbito da igualdade de género.

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