Mudar o imutável… ou morrer a tentar
Sob este céu, agora desimpedido e limpo, joga-se a Vida, o futuro e a subsistência da Humanidade. Apesar dos diferentes pontos de vista e opiniões sobre a benignidade das nossas ações, estas não podem - nem devem - ser ignoradas.
Nos últimos anos, o Ser Humano aumentou, enormemente, o seu peso sobre o planeta. Em dois séculos extinguimos espécies exóticas, abatemos florestas inteiras, derretemos glaciares imensos e alterámos a face do nosso planeta, muitas vezes irreversivelmente.
Toda a ação tem uma consequência, dir-nos-á a sabedoria popular; assim, não são, por decerto, imprevistos e injustificados os últimos cataclismos naturais que sobre o planeta se têm abatido: cheias intermináveis no Reino Unido, um frio gélido na américa do norte, tempestades e agitação marítima na europa continental ou picos de calor de 50.º C na Austrália e no Brasil. Há 500 anos, poderíamos mesmo acusar São Pedro do crescente esbatimento das estações e do extremar dos fenómenos meteorológicos. Hoje, porém, urge discutir a influência antrópica nestes acontecimentos e procurar adaptarmo-nos para não só prevenirmos o que de pior poderá vir, mas também termos capacidade de resposta a toda e qualquer eventualidade meteorológica que destas alterações advenha.
Quanto à culpa, apontam-se muitas: uns procuram blasfemar o aquecimento global, decorrente do aumento da libertação humana de gases com efeito de estufa - salvo seja. No entanto, uma corrente divergente contraria esta teoria, responsabilizando, sim, os ciclos naturais de libertação de carbono para a atmosfera como os verdadeiros culpados, introduzindo alguns dados interessantes neste debate. Muito embora não seja o meu objetivo discutir as alterações climatéricas à escala global - o que ficará para um próximo texto -, creio ser evidente que o papel humano nesta alteração tem de ser considerado.
Muito embora nos devamos sempre lembrar da nossa pequenez face à Natureza e ao maciço e massivo geoide que pisamos, também não devemos deixar de ter em conta as alterações que o Ser Humano processou, à escala global: raro é o destino virgem, inexistentes as paisagens inalteradas, escassas as áreas despovoadas. Em pouco mais de 200 anos, a Revolução Industrial e a Revolução das Tecnologias de Informação e Comunicação mudaram a face da Terra duma forma nunca vista.
Estranho seria concluirmos que esta mesma ação, omnipotente e omnipresente, não influencia em nada o clima terrestre, a subida do nível dos mares e as frentes frias e quentes que tanto nos afligem. Seria mesmo irresponsável para connosco, para com as gerações futuras e para com o planeta santificarmos a nossa ação a esse ponto, visto ser necessariamente a consciência do erro o primeiro passo para o corrigirmos e nos melhorarmos, a nós e à nossa sociedade.
Infelizmente, o bloqueio tende - ao menos nos dias de hoje - a ocorrer depois desta fase. Mais concretamente, aquando da apresentação das propostas de solução. Raros são os que se dispõem a prescindir da menor comodidade em prol da saúde do nosso Planeta Azul. Microscópico o peso dos que pretendem um desenvolvimento mais sustentável - lume das tendências para este século, infelizmente caída no esquecimento - face ao desregulamento de economias, países e grupos inteiros.
Precisamos de mudar, de repensar a nossa relação com a Terra e com a Natureza. Temos de aprender a poupar, a cuidar do alheio e a ser mais solidários e altruístas. Temos de nos preocupar mais com os outros, de contribuir mais para o melhoramento da nossa sociedade. Devemos fugir de preconceitos, estigmas e complexos, abandonar extremismos, vícios e manias. Acima de tudo, precisamos de contrariar, urgentemente, o egoísmo e a arrogância humana, que se têm apossado de largas fatias do nosso mundo. Da apatia face às alterações climáticas à aprovação do infame referendo contra a imigração por parte dos suíços, passando pela crise económica, é esta frieza e esta sub-reptícia maldade interesseira que nos perde. Que nos afundará. Que nos puxa e arrasta para o vazio.
Temos de mudar? Completamente. De tal depende a nossa própria sobrevivência, não só como indivíduos, mas mesmo como comunidade ou sociedade. Como devemos proceder a tal mudança? Isso, amigos, é uma questão a que apenas vocês poderão responder...