Infelizmente, é esta a juventude que temos: a caminho da alfabetização formal e, simultaneamente, do analfabrutismo funcional. A mais genial, bem formada e inovadora de todas, mas também a mais desempregada e expatriada. A mais informada e competente, contudo, também das que mais bebem, fumam e se drogam no espaço comunitário.

E, para mais, a situação não melhora, longe disso, quando nos focamos no nosso microcosmos, onde, aliás, a facilidade de acesso a informação e o diálogo multicultural e étnico deveria facultar um desenvolvimento pessoal e profissional muito mais recompensador, sob todos os aspetos, que na normal e mediana escola que responde nos dados estatísticos. Aos que assim pensam, apenas tenho a constatar que não poderiam estar mais enganados. Não obstante a facilidade de acesso ao conhecimento, à informação e ao saber tenha aumentado exponencialmente nos últimos anos, tal não ocorreu com a capacidade de filtragem, análise e apreensão desta mesma sapiência.

Verdadeiramente, quase poderia jurar que essa independência, esse livre-arbítrio, essa racionalidade crítica e metódica tem mesmo vindo a esbater-se e a perder defensores e praticantes. Para infelicidade da liberdade e democracia das nossas sociedades, cada vez mais tendemos a seguir a opinião da maioria, o caminho do rebanho, a mole humana. Geralmente, diretos para o primeiro penhasco que encontrarmos.
Desta forma, nos dias que correm, difíceis para qualquer esforço formativo, que sofre com as cada vez mais grossas amarras que prendem os jovens às redes sociais, a uma vida de excessos e de erros, este nosso cantinho, esta redoma cuja construção tanto suor custou a tantos, inumeráveis homens e mulheres, corre o risco de desabar. Nunca, jamais, estivemos pior. Em tempo algum flagelos como o alcoolismo e as drogas atingiram proporções como as que agora tomam.

Particularmente triste, mas também sintomático, é o decréscimo acentuado e descontrolado do desempenho escolar nos últimos anos. Não é, com certeza, necessário aceder a estudos estatísticos ou subterfúgios para tentar provar o oposto. É óbvio, evidente e até mesmo gritante o desinteresse que se apossa dos adolescentes e jovens de hoje. Não só as distrações são cada vez em maior número e calibre, mas também as próprias sociedades - e a moçambicana, em particular - caminham para uma terrível ociosidade, nas mais diversas esferas, e tendem a destruir os resquícios da cultura de esforço e mérito, que há já tanto corre risco de extinção.

De ano para ano, de período para período, de dia para dia, o esforço diminui. Sem nada nem ninguém que os combata efetiva e assertivamente, o amorfismo, o facilitismo e a preguiça imperam.

Sejam bem-vindos. Bem hajam, vós que visitais o vosso próprio túmulo, o túmulo que deixam os vossos descendentes escavarem para eles, para a sua geração e para a sua honra. Mas também para vós próprios. Pois, convenhamos, no sentido mais lato, em última instância, o que resta de nós que não os nossos filhos, descendentes, perpetuadores?

Cinzas.

Miguel PadrãoMiguel-Padrao

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