Uma sociedade sem história e cultura é, invariavelmente, uma sociedade sem identidade e futuro, amnésica e indiferente. Uma sociedade que não respeitar o passado não tem fundamentos que a justifiquem, não tem nenhuma hipótese de se superar ou corrigir os erros. Uma sociedade que não se conhecer, não lembrar as glórias - e os erros - que se passaram não se poderá retratar ou melhorar, congelada pela inanição e incapacidade de reflexão profunda. Tristemente, todo o planeta caminha, mais ou menos agudamente, para este preciso pardieiro de cultura e saber, no qual imperam as notícias bombásticas e popularuchas, os políticos de aparência e fachada, a irresponsabilidade do "não pagamos" ou demais provas da reduzida capacidade do povo de refletir por ele próprio e tomar, conscientemente, as suas decisões. Neste ledo engano de alma, enquanto a Europa se afoga no desprezo pela cultura que ela própria ajudou a criar, na apologia do desconhecimento das suas raízes e tradições e no perigoso e balofo multiculturalismo, criador dos mais diversos e variados guetos sociais, económicos e culturais, formando um Estado dentro dos Estado que um dia aspirámos a serem Unidos da Europa, não podemos certamente considerarmo-nos o patinho feio do Globo. De facto, tanto quanto nós, Ocidentais, perdemos a nossa cultura e moral, também os Orientais se afundam na corrupção, no vício do consumo, da virtualização do mundo e nas gravíssimas implicações das suas ações desregradas na saúde do planeta. Também os africanos, libertados, por fim, das supostamente autocráticas e opressoras armas do colonialismo e imperialismo europeu, ainda não conseguiram retomar números de graduados ou índices económicos e de riqueza de 1960, o famoso "Ano das descolonizações", tendo, entretanto, uma população exponencialmente mais alargada, com uma frágil, extensíssima base de jovens sem suporte social, políticos monolíticos e corruptos, uma competitividade inexistente e setores das "comodities" macrocéfalos.

Todos pertencemos a uma sociedade cega, surda e muda, iludida pelo desproporcional incremento do poder de processamento das máquinas, que se permite a aspirar a uma posição de primado na história - quantas vezes nos ouvimos a elogiar a nossa própria educação, o inaudito nível de sofisticação da nossa tecnologia ou a insuperável supremacia do nosso saber, hábitos e modo de vida? - sem ter, contudo, noção da sua própria imoralidade, dos seus erros e fraquezas, das suas falhas e "inconseguimentos", das variadíssimas vertentes em que regredimos nos últimos dois séculos ou das injustiças que este progresso acarretou.

Mais do que isso, e retomando o tópico inicial, concluímos facilmente que é esta mesma falta de cultura histórica e de princípios, tão visível na reação totalmente básica, primária, instintiva, irrefletida e acéfala do comum dos mortais a temas tão atuais quanto a Crise Grega, a contratação dum treinador de futebol ou o debate público de realidades mais polémicas, sejam elas o aborto, a eutanásia ou os transgéneros, a primeira causadora de discórdia, desunião e insegurança entre os Homens do presente. Há que conhecer a história, aprender todos os dias com ela, crescer sob a sua lira inspiradora e permitirmo-nos a ser tocados e inspirados pelo seu condão.

Aprende o passado para poderes prever o futuro, já rezava o velho ditado, e eu preciso forçosamente de reiterar: sem tal apoio, nunca se edificou Roma nem se sonhou Pavia, jamais se mantiveram grandes impérios ou se inspiraram grandes artistas, obras e feitos. Contudo, e se já Maquiavel dizia ser necessário ao Príncipe ideal dar as maiores prebendas compassada e lentamente e castigar sempre com a maior celeridade, também aqui aplicamos esse velho princípio, maldizendo todos quantos se servem da História para, com bruscas e alarmistas interpretações, procurarem inspirar o ódio e a indecisão dos seus concidadãos e levantar fantasmas e ilusões incompreensíveis. Esses, servindo-se do seu saber para moldar as almas mais indecisas e influenciáveis, afiguram-se como os mais injustos, imorais, manipuladora e falsos dentre os incorretos e vis. Se a Grécia está em crise por erros do presente e passado próximo, de que me serve a herança democrática de Péricles como argumento? Se África se consome pela ganância própria, de que me serve citar a conferência de Berlim ou a conquista de Ceuta? Nada, obviamente.

Assim - e o texto já vai largo -, resta-me apenas concluir: hoje, muito mais do que em qualquer ocasião do nosso passado recente, últimas seis décadas, mais concretamente -, uma juventude desinspirada, desanimada e abandonada pelos seus representantes políticos cresce e grita efervescentemente contra a Europa, o Euro e o status quo. Essa mesma geração, cultivada no facilitismo e na ignorância, principia agora mesmo a escolher representantes radicais - Frente Nacional em França, UKIP no Reino Unido, Syriza na Grécia - e a quebrar, finalmente, as últimas amarras, a queimar as últimas pobres que os ligam à noção de Europa que tanto trabalho custou aos seus avós. Eles, a primeira geração de jovens europeus que não conheceu a guerra desde que a história se recorda, inspira-se agora nessa mesma discórdia tola, acirrada pelos poderosos vizinhos da União, para lhe darem a machadada final.

Atuai, senhores, e contrariai esta perigosa onda, ou acabareis caindo neste abismo de populismo e hostilidade. Uma juventude desiludida e sem fé nos seus representantes é, sem sombra de dúvidas, a pior maldição que a Europa pode desejar. Se não a chamarem, se não a procurarem e motivarem para participar no NOSSO projeto, cedo chegará a hora do retorno dos tiranetes, das desconfianças e da desunião. E, por favor, não esperem pelo mal estar feito para o virem tentar minorar, pois dessa vez não serão os sorrisos amargos, os apertos de mão e gravata ou as burocracias vãs que vos salvarão do dilúvio.

Os oportunistas espreitam, faca desembainhada para se lançarem sobre a nossa princesa. Protejam-na, ou tombarão todos junto com ela!

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