Numa época caraterizada pelo confinamento, devido à pandemia do novo coronavírus, a Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) celebra hoje (3 de março) o Dia Mundial da Audição, com intuito de sensibilizar a sociedade para as dificuldades que as pessoas com surdez (moderada, severa a profunda) têm em aceder à língua falada e escrita da comunidade em que vivem, o que tem reflexos ao nível da produção escrita, da linguagem, da comunicação e das aprendizagens e consequentemente na sua inclusão na sociedade e no mercado de trabalho.
De acordo com Ana Paula Gomes, Coordenadora do Departamento de Educação Especial, os casos de sucesso na integração da Pessoa com Deficiência, particularmente a auditiva, tendem a aumentar, mas “não tantos como o que seria expectável”, alertou a docente, acrescentando que “por isso, um longo caminho ainda nos espera a todos, de modo a criar as condições necessárias para que os surdos desenvolvam todo o seu potencial, o que implica construir escolas que aceitem e eduquem todos, até ao limite das suas capacidades”.
Para a docente, as ambições e o desejo pela total aceitação e apoio aos surdos não deve estar desconexa do trabalho já realizado pelos diversos atores sociais e implica um trabalho conjunto de toda a sociedade. “Ao longo dos tempos, a surdez foi encarada de diferentes formas e foi alvo, frequentemente, de discriminação e preconceitos. No passado, as pessoas com surdez eram entendidas como seres desqualificados e inferiores, que possuíam um defeito de nascença e, como tal, deveriam ser eliminados. Felizmente essa atitude já se alterou e hoje sabemos “que a aptidão para a aquisição de uma língua é genética, mas tem de ser estimulada pelo meio”, explicou.
Na EPM-CELP, as medidas para incluir os alunos com surdez passam por colocá-los de forma privilegiada na sala de aula, mais próximo do docente e do quadro; ajudar na descodificação dos textos e da linguagem e verificar se entenderam o vocabulário utilizado. Além disso, os alunos com surdez moderada a profunda não podem ser penalizados por uso de um vocabulário reduzido e frases curtas, troca de palavras devido a semelhança fonética, dificuldade na aplicação dos verbos ter, ser e estar, entre outros, inclusive nos exames.
“A dificuldade de produção e do domínio da fala, pelos mais diversos motivos, que impede ou prejudica o ato de comunicar, é uma das formas mais frequentes de marginalização, em qualquer faixa etária, em qualquer grupo social”, enfatizou a docente para que “o objetivo é, por isso intervir, o mais cedo possível para superar os constrangimentos que daí resultam”.