CIDADANIA | Alunos do Secundário discutiram problemas mundiais no Modelo das Nações Unidas
Ameaças à paz e segurança internacionais causadas por atos terroristas no mundo, e em particular na Ucrânia, dificuldades enfrentadas no Líbano, sobretudo devido à pandemia, a existência de refugiados migrantes da Palestina e da Síria, a explosão do porto de Beirute em 2020, bem como a corrupção, foram o cerne do debate no último fim-de-semana em mais uma seção da conferência “Maputo Modelo das Nações Unidas” (MaMUN). Durante os três dias de intensos debates sobre várias resoluções, dez alunos do ensino secundário da EPM-CELP assumiram papéis de diplomatas das Nações Unidas através de demonstrações de competências de investigação, seleção, tratamento e interpretação de informação, bem como de argumentação perante os seus congéneres aliados e oponentes de outros países.
Diferentemente de outros anos, em que todas delegações se focam na discussão do mesmo tema central, a seção 2021 escolheu quatro assuntos, divididos em dois comités: o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral. O primeiro toma decisões para a Organização das Nações Unidas (ONU), como criar tratados internacionais e autorizar ações militares e o segundo espacializa-se em vários assuntos sociais que afetam o mundo inteiro.
E o modelo de abordagem adotado permitiu criatividade e engenho, fazendo com que os alunos mais experientes conseguissem aliados e aprovassem as suas resoluções. Tatu Machatine, aluna do 12.ºC na EPM-CELP, é disso um exemplo. Tão experiente quanto convincente, a estudante representante do Níger conseguiu, a par da sua homóloga do Quénia, explorar o ambiente e colher experiências válidas para contra-argumentação durante os debates.
Para ela, a experiência é boa para os alunos que estejam em áreas de humanidades, ou qualquer outra, para saber quais são os pontos positivos e negativos. “É bom para quem gosta de falar em público porque nos apresentam um certo desafio e nos colocam a trabalhar sob pressão. Ajuda também nos aspetos diplomáticos, porque, como representamos países, temos de nos adaptar aos ambientes das nossas nações. Se for atribuído Estados Unidos de América, por exemplo, e falarem sobre o aborto, então não podem ser contra. O país é a favor e eu, como representante, tenho de saber disso. Temos de nos adaptar ao país e ignorar as nossas opiniões. Alguns representantes são atacados porque escrevem resoluções baseadas nas suas opiniões e não na realidade do país”, explicou a aluna.
Para a defesa, Tatu escolheu o tema “Ameaças à paz e segurança internacionais causadas por atos terroristas” e explica que foi pelo facto de o seu país (Níger) fazer fronteira com a Nigéria e o Chade, dois países africanos desestabilizados pelo terrorismo. “Nas minhas resoluções apelo a ajudas financeiras às várias organizações das Nações Unidas. A ideia é a rápida recuperação do Níger após os ataques. Sendo um país pobre, com quase 80 por cento do território desértico, e por falta de condições e especialistas de combate em locais adversos, fica difícil sanarmos essas lutas no meio do deserto”, afirmou a aluna para quem “a ajuda internacional pode aliviar o sofrimento do povo”.
Para além de ajudas externas para reerguer o país, Tatu Machatine defendeu, nos debates, a busca de acompanhamento psicológico para mulheres e crianças sobreviventes e a sua inclusão na educação. Na sua análise, o trauma imposto pela sangrenta presença hostil afeta a saúde mental da população.
Jenaro Lopes Ribeiro, aluno novo na EPM-CELP e na conferência, revelou sentir-se satisfeito por ter encontrado nos debates oportunidade de crescer e ter orientação sobre os vários problemas que afetam o mundo. Representante da República do Iraque, no comité da Assembleia Geral, a sua análise incidiu nos desafios governamentais, económicos e sociais que afundaram o Líbano, com destaque para os eventos desastrosos da pandemia da COVID-19, os efeitos nefastos dos migrantes da Palestina e da Síria, a explosão do porto de Beirute em agosto de 2020 e as consequentes dívidas para reerguer a cidade, os protestos nacionais contra o governo e sobretudo a corrupção.
Uma conferência mais exigenteAs conferências baseadas no Modelo das Nações Unidas (JoMUN, MaMUN e EPM-CELPMUN) são já uma tradição na EPM-CELP, mas os eventos que acontecem desde a eclosão do novo coronavírus torna-os mais exigentes. Para Carolina Ossumane, do 11.ºB, participante do JoMUN em setembro, e nesta secção representante do comité da Assembleia Geral, as dificuldades relacionadas com a distância em termos do espaço entre os diplomatas, a fraca preparação, antes feita em contexto de sala de aula e no auditório em “miniconferências”, refletem-se na participação destes durante os debates oficiais. Estes passos não foram possíveis, em virtude do projeto estruturante de escola Modelo das Nações Unidas se encontrar temporariamente suspenso, por razões relacionadas com a pandemia atualmente vivida.
A dificuldade é também sentida por Sandra Macedo, coordenadora do projeto Modelo das Nações Unidas e facilitadora da atividade. Segundo contou, “perdeu-se o contacto físico, a emoção de conhecer e de interagir em contexto real com novas pessoas, a socialização. A conferência em contexto virtual é mais fria, no que respeita aos afetos. Por isso, este ano, em vez de ser um debate nos termos daquilo que é o protocolo regular, que costuma acontecer, a Escola Internacional Americana de Moçambique proporcionou um curso. Os alunos estão a receber orientações para aprenderem todo o protocolo de discussão, regras, procedimentos: é uma espécie de oficina, na qual vão construindo as resoluções à medida em que vão aprendendo”, explicou a docente.
Refira-se que este projeto é estrutural na Escola e tem como público alvo alunos do Ensino Secundário. Os debates foram igualmente preparados pelos professores de Inglês e de Filosofia, bem como da coordenadora do ensino secundário e assistidos pelos membros da Comissão Administrativa Provisória da EPM-CELP.