O Auditório Carlos Paredes da EPM-CELP recebeu, esta tarde, alunos do 12.º ano para assistirem ao espetáculo teatral “Desassossego”, interpretado pelo ator português Alberto Quaresma a partir de excertos da obra “Livro do Desassossego”, assinado por Bernardo Soares, um dos heterónimos de Fernando Pessoa.
“Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus”: foi sob a inspiração desta conhecida frase de Fernando Pessoa, projetada no fundo do palco do Auditório Carlos Paredes, que Alberto Quaresma iniciou o espetáculo, estreado em abril de 2014 no Teatro Municipal Sá de Miranda (Viana do Castelo, Portugal), dirigido a todas as turmas do 12.º ano que, nos respetivos planos de estudo na disciplina de Português, abordam textos de Fernando Pessoa.
O ator Alberto Quaresma, que faz uma digressão teatral por Moçambique com o espetáculo “Desassossego”, vestiu a pele do personagem Bernardo Soares criado por Fernando Pessoa para expor opiniões sobre diversos como o amor, a guerra, a atualidade e a dicotomia passado-presente, entre outros. Durante a “aula informal”, Alberto Quaresma desnudou algumas das questões que mais inquietavam, então, um dos maiores poetas e escritores português, que as escreveu e publicou, muitas delas com ligação evidente à atualidade. “Vivemos tempos muito perturbados e muito perturbantes”, sublinhou o ator Alberto Quaresma quando, no final, foi questionado sobre a atualidade dos textos de Fernando Pessoa, exemplificando: “Ligamos a televisão e ouvimos notícias sobre os mísseis da Coreia do Norte. De seguida, ouve-se a reação destruidora do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump”. Na opinião de Alberto Quaresma a atual crise dos refugiados está relacionada “com a guerra mundial que estamos a viver”, declarou o ator português. O mesmo sucedia, segundo o ator, com Fernando Pessoa enquanto escrevia o “Livro do Desassossego”, uma obra que levou mais de 20 anos a ser redigida, ficando incompleta. Naquele período de produção escrita Fernando Pessoa testemunhou a primeira guerra mundial (1914-1918) e o prenúncio da segunda, vindo a falecer em 1935.
Alberto Quaresma explicou-nos como preparou a peça de teatro: “Escolhi os textos que mais me impressionaram e reduzi-os a 55 minutos/uma hora. Esta foi a parte mais difícil”, declarou o ator. Foi mais esclarecedor ao afirmar que “por uma questão de honestidade profissional, não adapto o texto ao público-alvo; tenho de o fazer igual para toda a gente” pois para Alberto Quaresma os textos selecionados só podem ser ditos da maneira que escolheu porque “tenho de interpretar o que diz o Fernando Pessoa, para que as pessoas não ouçam palavras, mas sim, ouçam a expressão de um pensamento”, objetivou Alberto Quaresma.
O espetáculo “Desassossego” serve, também, para iniciar a celebração do 40.º aniversário, em 2018, da carreira, em teatro, de Alberto Quaresma. “Foi este Fernando Pessoa que disse estas coisas sobre a realidade em que viveu e que posso dizê-las agora na realidade em que vivo, que me interessou”, explicou Alberto Quaresma, para quem não encontrou “personagem melhor para celebrar a minha carreira” do que Fernando Pessoa e Bernardo Soares.
Alberto Quaresma iniciou a sua carreira de ator em 1978 na Companhia de Teatro de Almada, vindo a trabalhar posteriormente com outros grupos como o Seiva Trupe, Teatro Experimental do Porto, Os Comediantes, Teatro do Noroeste, Teatro Aberto e Teatro da Cornucópia e a colaborar frequentemente para inúmeras novelas e séries famosas de televisão, como “Duarte e Companhia” e “Malucos do Riso”.