A Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) recebeu, hoje, pais e encarregados de educação para lhes dar a conhecer a dinâmica escolar diária dos seus educandos, sobretudo em contexto de sala de aula. Foi o dia da “Escola Aberta”, que deu início ao programa de comemorações do 19.º aniversário da nossa Escola.
Com a colaboração da Associação de Pais e Encarregados de Educação (APEE), tiveram lugar, no âmbito das aulas de Educação para a Cidadania/Cidadania e Desenvolvimento, a “Conversa à Volta dos Livros”, na Biblioteca Escolar José Craveirinha (BEJC), e duas sessões da “Feira das Profissões” (Auditório Carlos Paredes e BEJC).
A “Feira das Profissões” proporcionou momentos de partilha de experiências profissionais, através da qual os encarregados de educação contaram histórias de superação de dificuldades, acompanhadas de reflexões sobre as escolhas individuais. O primeiro colóquio realizou-se, de manhã, na BEJC, e contou com a participação, para além de alunos de várias gerações, dos painelistas Cristina Azevedo (Direitos Humanos e Desenvolvimento), Danial Valigy (Comunicação e Marketing) e Alcides Humba (advogado). A segunda sessão, à tarde, no Auditório Carlos Paredes, juntou num painel Igor Armando e Soraia Abdula, antigos alunos da EPM-CELP, Frederico da Silva e a antiga jogadora moçambicana de basquetebol Clarisse Machanguana, que brilhou na liga profissional da modalidade nos EUA (WNBA). Sensíveis aos desafios do mercado de trabalho, a nível global, os quatros profissionais, de áreas distintas, deram conselhos aos alunos a quem revelaram segredos da vida profissional e respetiva exigências de integridade pessoal na sociedade atual.
Os diálogos e debates evidenciaram as dificuldades humanas na busca pelo sucesso profissional e que as mesmas se prendem com as escolhas, trajetos e obstáculos associados às condições socioeconómicas de cada indivíduo. “Todos nós temos uma porta para abrir”, afirmou Clarisse Machanguana, que revelou ter viajado pelo mundo fora “sem pagar um tostão do meu bolso pois a bola de básquete abriu-me portas e era o meu passaporte para onde quer que eu fosse”. Para a antiga “estrela” da WNBA, que atualmente dirige a Fundação Clarisse Machanguana com intervenção social junto das camadas mais jovens, “o mundo não nos deve nada, portanto é preciso que consigamos sempre identificar o que queremos, mesmo que seja contra a vontade de muitos”, acrescentando que “o que temos nas casas dos nossos pais não nos pertence. Temos, igualmente, de conquistar e criar as nossas coisas, com sorrisos, lágrimas e muita dedicação”.
Soraia Abdula, antiga aluna da EPM-CELP, revelou que, devido a vários condicionalismos, viu-se obrigada a mudar do curso de diplomacia no Instituto Superior de Relações Internacionais para o de ciências da comunicação numa universidade portuguesa. Concluída a formação académica, enfrentou várias dificuldades para se afirmar no mercado do trabalho, devido, segundo nos contou, à complexidade do seu curso no enquadramento teórico-prático da atividade em Moçambique e, também, pelas condições de trabalho oferecidas.
Frederico da Silva, por seu turno, contou que a sua vida não difere de qualquer cidadão sem pai ou mãe influentes, tendo, por isso, adotado estratégias para se reinventar perante as exigências do mundo do trabalho. Atualmente capitão dos portos de Maputo e Matola, Frederico da Silva revelou que cedo decidiu especializar-se “naquilo que os outros não querem fazer, não sabem fazer e não podem fazer”, concluindo ter percebido “que devia dar um rumo a minha vida e se não fosse eu a fazer ninguém o faria”, realçou.
Para Igor Armando a experiência de ter ido estudar em Portugal como bolseiro trouxe mais energia e foco às suas decisões, explicando que o facto de não ter presente a sua mãe “para me dar forças nos momentos baixos, fez com que eu me erguesse e essa foi a minha maior dificuldade: me reinventar onde eu não conhecia ninguém e era um total estranho”, confessou.
As perguntas e comentários colocados pelos alunos nas sessões da “Feira das Profissões” constituíram sinal de que os alunos foram incentivados a lutarem autónoma e responsavelmente pelo futuro, assumindo escolhas e trajetos académicos e profissionais, não isentos de dificuldades.