
Está patente até ao próximo dia 19 de outubro, na Biblioteca Escolar José Craveirinha da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP), a exposição “A I República Portuguesa em caricatura – Um estudo com outra perspetiva...” que versa sobre os 16 anos de controvérsias, na persistente tentativa de estabelecer e manter uma democracia parlamentar sólida.
Karina Bastos, professora de História na EPM-CELP e idealizadora da mostra, afirmou que foi fundamental o envolvimento de alunos e funcionários, muitos em regime de voluntariado, na criação e montagem da exposição. “Na conceção foram executadas as sugestões apresentadas pelos alunos da disciplina de História da Cultura e das Artes, tendo sido colocados em prática alguns dos princípios básicos da museologia. Em todo o processo os educandos tinham de responder à questão central: como dar vida a um espaço?”, explicou a docente.
Os conteúdos da exposição, que abrem espaço para a interação e criatividade com os diferentes atores escolares da EPM-CELP, valorizam a liberdade de imprensa durante aquele regime republicano e a utilização da caricatura como veículo de comunicação, numa época em que a maior parte da população era analfabeta. Há, igualmente, uma satirização da dor, do desespero e do sonho de mudar a governação parlamentar, considerada a mais instável da Europa de então. Entre os vários trabalhos que se destacam pela audácia temática, o “Bailado Político” mostra-se transcendente na medida em que busca a sensibilidade artística para criticar: “A república dançando ao som da música tocada pelos políticos, simbolizando a rapidez (a ligeireza) com que os governantes se sucediam”, explica a própria caricatura.
Porque a República foi prejudicada pelas frequentes violência pública, instabilidade política, falta de continuidade administrativa e impotência governamental, alguns temas, como “O aumento de custo de vida” e “A introdução do casamento civil” ganham forma de retrato nas dezenas de obras de caricaturas expostas na biblioteca. A caricatura do “Zé povinho toma banho no suor do seu rosto”, criada em 1903, antes, por isso, do novo regime, surge nesta exposição para efeitos de comparação dos dois governos, ou seja, “para o observador ter noção do antes e ver se existiu alguma mudança”, explicou Karina Bastos.
Idealizada no campo didático para discutir assuntos relacionados com a disciplina de História da Cultura e das Artes, a exposição coloca os alunos visitantes no papel central de construtores do seu próprio conhecimento. Na etapa inicial faz-se o levantamento das chamadas “ideias prévias”, dissipando dúvidas sobre a definição de caricatura ou sobre o que terá acontecido no dia 5 de outubro de 1910. De seguida, lançam-se vários desafios com o objetivo de desenvolver as primeiras respostas e, por fim, elabora-se uma caricatura e um registo de uma opinião ou um sentimento expresso no “livro em branco”, colocado na sala de exposição para o efeito.
Cristina Viana, representante do grupo disciplinar de História, revelou que a exibição integra o plano anual de atividades no capítulo da comemoração de datas festivas portuguesas e moçambicanas. Ou seja, “nesta exposição, que assinala a Implantação da República Portuguesa, a 5 de outubro, procuramos abordar os acontecimentos na perspetiva da crítica da imprensa da época sobre o regime republicano. Tentamos também introduzir um conceito inovador de exposição interativa e dinâmica na forma como o público vê e interpreta os documentos”, explicou Cristina Viana. Dinamizar e reforçar o papel dos alunos na atividade, de forma a que os mesmos sejam intérpretes e construtores do conhecimento disponível na exposição é a palavra de ordem.