Em, quase, dez meses de trabalho árduo desenvolvido nas atividades de artes visuais, alunos do pré-escolar ao ensino secundário da EPM-CELP moldaram o lixo e, com engenho e criatividade, criaram obras que inspiram amor e diversidade, repudiam o ataque ao ambiente e valorizam a reciclagem. “Arte 21” foi a mostra resultante daquele processo, inaugurada no passado dia 7 de junho, no Camões – Centro Cultural Português em Maputo, e integrada no programa de comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, assinalado a 10 de junho.
Com encerramento marcado para o próximo dia 28, o evento, que expõe obras associadas a várias técnicas e vincadamente ao ambiente, traduz a revolta dos autores em relação às agressões ambientais, levando-os a valorizar a sua consciência e olhar crítico face à atualidade ambiental. São vários os episódios retratados que magoam os cidadãos, como, por exemplo, o uso irracional e exacerbado do plástico, responsável pela poluição do ambiente e dos mares, chacinando animais marinhos sem consciência ou motivo justificável.
Em “Arte 21”, os pequenos artistas convocam à rebelião – e correspondente ação -, contra uma situação em que 92 por cento da população do planeta respira ar contaminado e milhares de animais marinhos ingerem plástico diariamente, segundo dados divulgados, recentemente, pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Na sala do “Camões” estão expostas caixas onde figuram rostos que exprimem emoções, garrafas “pet” que dão brilho e forma a vários trabalhos, tampas que ornamentam cadeiras, adereços e cores que transformam lixo em arte, materializada através de várias formas de expressão artística, como a pintura, desenho, escultura e instalação, variando entre obras individuais e coletivas. De Moçambique, há trabalhos que refletem a influência artística de criadores nacionais, visível nos traços assumidos pelos autores.
Reinterpretações de obras como “Quando a dor dá tanta alegria”, de Malangatana, feitas pelos alunos do terceiro ciclo, usando a técnica de guache sobre papel, “Os Mabunda”, “Os Meninos da Mafalala” e a madeira e zinco do bairro da Mafalala, esta construída na base do papel, refletem o olhar reflexivo e sensitivo dos petizes, tanto quanto unem Moçambique e Portugal através de painéis de “capulejos”.
Para além das temáticas da poluição e da diversidade cultural, os trabalhos expostos, selecionados entre os muitos que, ao longo do ano letivo, foram produzidos, espalham vivências quotidianas na EPM-CELP. Os alunos do pré-escolar, por exemplo, criaram, no início deste ano letivo, uma machamba pedagógica junto às suas salas e expuseram obras, feitas a tinta, como os “Bichos da nossa machamba”.
A exposição passará a ter periodicidade anual mercê da parceria estabelecida entre a EPM-CELP e o Camões – Centro Cultural Português.
Um trabalho ambicioso
Partindo do princípio de que a arte é a força que nos permite contribuir para que a sociedade perspetive um amanhã melhor, Teddy Lázaro Sango, aluno do “10.ºA4” e coautor da exposição, tem a expectativa de que o público perceba o mote da amostra: a liberdade e a vida. “Senti-me muito livre quando enfrentei o desafio, ainda na sala de aula. Graças à minha professora, que se tem mostrado inspiradora e paciente, conseguimos desenvolver trabalhos que nos remetem à grande reflexão sobre a liberdade e a própria vida”, disse o estudante.
Na exposição “Arte 21”, Teddy Sango, que almeja seguir arquitetura, concebeu o desenho usado no cartaz e em diversos folhetos da exposição. Segundo explicou, o trabalho – e outros dois da sua autoria expostos no Camões – foi inspirado no “Os Mabunda” e refletem, igualmente, o mesmo sentido crítico sobre a liberdade.
Ana Paula Canotilho, professora de Educação Visual na EPM-CELP e uma das orientadoras da exposição, explicou que o conceito “Arte 21” está alinhado com a atualidade. “Considerando que, atualmente, há um novo conceito que deve ser marcado em todos os níveis, achámos melhor agregar estas ideias às nossas obras”, revelou a docente, sublinhando que “houve um fio condutor para esta exposição. Por exemplo, as obras dos pequenos quartos, criadas pelos alunos do segundo ciclo, ilustram a dimensão da desconstrução de um conceito para construir outro, neste caso de um quarto, de uma casa. O mesmo acontece com os “pufos” pois estes assentos podem também ser candeeiros ou estarem por aí pendurados”.
A diretora da EPM-CELP, Dina Trigo de Mira, disse, na cerimónia de inauguração do evento, que os trabalhos expostos visam mostrar à comunidade e ao país de acolhimento o que se faz na EPM-CELP para o crescimento de alunos e professores. Noutro discurso, incorporado no folheto informativo da exposição, Dina Trigo de Mira esclarece que “o trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula deve ser ambicioso, desafiando educadores e educandos para um olhar crítico e reflexivo sobre a realidade em que estamos integrados e fazendo de cada jovem aluno um futuro cidadão comprometimento com os valores democráticos humanistas que defendemos”.