A Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) foi palco, na tarde da passada quarta-feira (4 de dezembro), de dois eventos culturais que, inseridos nas comemorações dos 20 anos da sua existência, valorizam a sua própria história e as artes. Lançou, no átrio central, o livro "Formação de Professores em Moçambique na Área da Prevenção do HIV/SIDA”, o primeiro de Ana Besteiro e o sexto da coleção "Pensar a Educação" e, no Pátio das Laranjeiras, inaugurou a exposição "Entre 2 Gerações", do artista plástico Nino Trindade.
O livro de Ana Besteiro, professora de Ciências da Natureza da EPM-CELP, tem 166 páginas e integra a sua dissertação de mestrado em Ciências da Educação - área de Formação Pessoal e Social. Propõe, igualmente, na sua estrutura dividida em quatro capítulos, uma análise da forma como estão a ser implementadas as estratégias para a abordagem do HIV/SIDA ao nível dos institutos de formação de professores do ensino primário em Moçambique.
A obra, de acordo com a autora, não foi escrita com a pretensão de ser alvo de uma publicação para as massas, porém, devido a pertinência do tema, decidiu expô-la. Na investigação, que culminou com a dissertação, “considerei urgente interligar o tema da investigação com a minha prática docente/formação de professores, refletindo sobre o papel da educação e dos professores, como agentes de mudança de comportamentos, no contexto da Escola, na sociedade moçambicana”, afirmou Ana Besteiro. O estudo mostra como a educação “poderá surgir como eixo decisivo para estimular a mudança de comportamentos, revertendo, por via da sua ação, o cenário da propagação, bem como os feitos colaterais” do HIV/SIDA em Moçambique, esclareceu a autora.
Teresa Noronha, responsável pelo setor de publicações da EPM-CELP e apresentadora do livro, revelou, antes de abordar o conteúdo da obra, as razões que a levaram a aceitar a missão: “a Ana começou a dar aulas com 18 anos, em 1978, na Escola Secundária Josina Machel, e eu fazia parte do primeiro grupo de alunos de que ela foi professora. Por isso, ela pediu-me que apresentasse o livro em representação de todos quantos ao longo de mais de 30 anos foram seus alunos”, referiu. A dissertação “reflete uma preocupação sociológica, médica, humana e de saúde pública, área esta que sempre constituiu uma preocupação da Ana Besteiro pelo facto de ser professora de ciências, onde a saúde e a sexualidade são dois temas presentes nos currículos”, afirmou Teresa Noronha, acrescentando que “a motivação para a sua realização advém, também, como ela própria confessa, do facto de ter sido estudante de medicina, ainda que não tenha concluído o curso, optando, mais tarde, pela biologia em que se formou”.
Dina Trigo de Mira, presidente da Comissão Administrativa Provisória da EPM-CELP, afirmou, por sua vez, que a coleção "Pensar a Educação" visa valorizar o conhecimento adquirido pelo corpo docente da nossa Escola, revelando que o livro "Formação de Professores em Moçambique na Área da Prevenção do HIV/SIDA”, de Ana Besteiro, encerra o ciclo das publicações físicas da coleção, passando agora a as obras a serem publicadas em formato digital.
Nino Trindade expôs "Entre 2 Gerações"
Um ano depois de expor “Mentes e Traços Urbanos” no átrio central da EPM-CELP, o artista plástico moçambicano Nino Trindade voltou a exibir dezenas de obras que espelham os seus sentires e pensamentos enquanto artista e membro da sociedade moçambicana. A mostra, patente na nossa Escola até final da próxima semana, chama-se "Entre 2 Gerações" e, segundo explicou o próprio artista, visa problematizar o conceito da arte junto dos alunos de todos os ciclos de escolaridade.
De acordo com o artista, a exposição de pintura e escultura abstratas é de caráter didático “porque vem cultivar e criar um intercâmbio entre os estudantes da Escola e os traços da minha arte. Ou seja, venho questionar que noções eles têm sobre a arte moçambicana, principalmente a que tenho feito que incide mais na capulana, no tecido, na escultura abstrata, no tradicional, na mistura de material, no metal e na madeira”, declarou Nino Trindade, para quem as “obras têm um dizer muito forte na ligação entre a cultura moçambicana e a portuguesa”.
A terminar o seu curso de Artes Visuais no Instituto Superior de Artes e Cultura (ISArC), Nino Trindade reconhece o seu valor social e artístico-cultural, admitindo, por isso, que a sua obra é de intervenção social. A sua ambição é quebrar os limites da criação artística e abarcar nas suas obras outros traços e sentidos da expressividade, pois, segundo disse, “a arte tem um papel muito importante na sociedade, capaz de pensar abertamente e validar a opinião sem medo de represálias”, terminou.