Para lá das montanhas mais altas, nas terras mais longínquas, há uma cidade desconhecida, onde o sol brilha mais do que noutro sítio qualquer.

Lá, tudo é maravilhoso: as casas são baixas e de um azul claro que faz lembrar o céu, as ruas são largas e as luzes que as iluminam são como estrelas numa noite de verão. As plantas estão todas muito bem cuidadas, cada detalhe impressionaria qualquer ser humano normal, pois é tudo tao perfeito que ninguém acharia possível.

Naquela cidade, toda a gente é muda, ninguém ouve nem fala. Mas afinal... palavras para quê? As palavras estragam tudo, magoam o outro com a sua intensidade e poder. Assim, ninguém poderia rebaixar o outro e enquanto uma atitude pode valer mais do que mil palavras, falar para quê? Deste modo, cada um expressa os seus desejos com gestos ou atos. A dor não não podia ser sentida. Era um sentimento impossível e completamente desconhecido e sendo a cor preta seu sinónimo, não era permitida em roupas.

Eram todos humildes, criativos e inteligentes, porém viviam na incerteza e no desconhecido do que estava para lá das montanhas e até mesmo do céu. Desejavam sabê-lo, viviam na ansiedade de conhecer novas pessoas e culturas.

Essa maravilhosa cidade tinha um chefe, mas que, ao contrário da normalidade, era uma mulher. E esta certificava-se da paz, da ordem e de cada detalhe. Era bela como uma rosa, a sua cara pálida fazia lembrar a neve e os seus cabelos pretos e cacheados eram de uma beleza nunca antes vista. Cada bebé que nascia era abençoado por ela antes mesmo de lhe atribuírem um nome.

Mas, certo dia, o improvável aconteceu. Nascido de uma pobre mulher, uma criança negra veio ao mundo. Tinha os olhos escuros e a pele suave. Umas maçãs do rosto de uma perfeição extrema e um olhar poderoso. O que haveriam eles de fazer agora? Era uma contrariedade, pois o preto era a cor proibida, mas rebaixar alguém era uma regra que jamais poderia ser quebrada. Perceberam de imediato que, para além da criança ter uma cor diferente, conseguia ouvir e falar. Nada fizeram, deixando assim o menino crescer em paz.

Em pequeno, embora nunca fora posto de lado, sentia-se por parte rejeitado por ser diferente, achava que não pertencia ali. Que aquela perfeição toda não era para ele, queria e precisava de mais, mas nunca ninguém o compreendeu. Estavam todos demasiado ocupados a ser eles próprios que nem reparavam nos problemas dos outros. Mas afinal, quem era ele? Ninguém. Não passava de uma criança. Diferente, claro, mas era uma criança e que tipo de adulto ocupado vai reparar numa miniatura de pessoa que, ainda por cima, é diferente dele?

Passado uns anos, pouco tinha mudado, o sol brilhava com a mesma intensidade, a cidade continuava com a sua total perfeição. Mas o menino foi crescendo e, chegando à idade adulta percebeu que estava na hora. Na hora de ter algo mais e saber algo mais sobre o mundo. Assim, abandonou a cidade apenas com uma sacola às costas que a mãe lhe dera um pouco antes de morrer.

Passaram dias, semanas, meses, anos. Até que ele, já quase sem conseguir andar pois o cansaço possuíra seu corpo (que já não era propriamente novo), voltou á sua terra natal. Continuava com aquelas maças do rosto perfeitas e com o sorriso mais brilhante alguma vez visto, desta estava mais feliz, sentindo-se realizado. Ensinou-lhes tudo o que aprendera, detalhe por detalhe. Toda a gente agora o admirava, era como que uma inspiração para os mais novos e um orgulho para os mais velhos.

Aquela gente, para além de tudo o que ele lhes ensinou, aprendeu assim que, se alguém quer ter o que a maioria não tem, tem que fazer o que a maioria não faz.

Inês Teixeira (7.º C)ines teixeira

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