Quando roça um galho noutro
num abraço improvisado
Quando, a trote, o jovem potro
desalmadamente cavalga o verde prado
Toda a Natureza se agita
Toda ela é folia, festança
Riqueza burguesa, coberta de chita
Podre de rica, leda d'abastança
Ri do prazer crescente
Que lhe provoca a sensação
Do poder toti, omnipotente
Que a embala na canção
Do chilreio harmonioso
D' uma madrugada qualquer
Breve canto puro e choroso
viva força de viver
Passa o Homem, displicente
Por esta efémera tela viva
nada o seu coração sente
não vê coisa que lhe sirva
Num instante, o ódio fervia
transforma a tela em linho
cala para sempre a melodia
esfola o rato em arminho
E assim se esvai em terror
um sonho puro de amor
Se desfaz em mil estilhaços
Enquanto se descerram os olhos laços
D'uma ancestral árvore terna
Símbolo do triste poema que termina
Como tudo na vida jamais eterna
Como a força que me já não fulmina
Miguel Padrão