
Louco: nome comum, masculino, singular.
Louco: adjetivo, masculino, singular.
Interessante este fenómeno em que a loucura dos outros pode parecer apelativa a um certo sujeito. Interessante como esta loucura é capaz de cativar a atenção dum aluno levando a olhar pela janela fora à procura da fonte de gritos e manifestações de alegria. Loucura esta capaz de ser mais apelativa do que a própria aula de Português.
Pois, acontece que a loucura não é, necessariamente, a perda da razão, ou um ato descontrolado. A loucura não precisa de ser sinónimo de insano.
A propósito deste fenómeno vou contar-vos uma história...
O ponteiro fino e alto dos minutos acabara de passar pelo décimo quinto tracinho cuidadosamente desenhado no relógio. Significa isso que passavam quinze minutos das dezassete horas. Significa isso o final das incessantes e martirizantes aulas para a turma do 9.º H naquela sexta-feira. Ainda me pergunto quem terá inventado tal tortura. Será que nascemos já condenados? Parece que sim!
Parecia-me motivo mais que suficiente para pulos de alegria, gritos desvairados, capazes de atravessar o vidro espesso da janela da sala 15, entrar nos ouvidos, passar pelos tímpanos e chegar ao meu cérebro a informação de que algo se passava para lá das paredes da sala onde estávamos. Cérebro meu que não resistiu à tentação de enviar sinal aos meus olhos para que virassem a brilhante e preta íris para o lado esquerdo de modo a observar o que significavam tais demonstrações de loucura.
Pois aí cometi o adultério de desconcentrar-me na aula. Malditos gritos, maldito cérebro. Porque me mandaste tu olhar para o lado? Será que o facto de eu ter de compreender a matéria não te ocupa o suficiente?
Nesse preciso momento, desvio o olhar e observo os meus colegas do 9.º H a festejarem o final de uma semana de aulas e a celebrarem o início de um fim de semana sem salas de aulas, sem projetores, sem quadros e, sem o som agudo do giz que fere os ouvidos cada vez que o ângulo de contacto entre o frágil material e o quadro verde, de fibras sintéticas, não é o mais correto.
Pois o stor também ouviu tais gritos. Porém, em vez de olhar pelo vidro transparente da janela, decidiu direcionar os glóbulos oculares para mim e reparou que eu me distraíra.
- Daniel, escreve aí: "A Loucura dos Outros Parece-me Apelativa".
Eu escrevi. Sabia o que me esperava. Teria que redigir um texto cujo título seria o previamente citado pelo stor de Português.
-Tens até terça feira! – acrescentou ele.
E, a esperança de que aquele seria um fim de semana descansado, onde eu iria preparar-me para domingo à noite celebrar a vitória do meu Sporting sobre o rival, e clube do meu professor, acabara de desmoronar-se.
"Loucura" chamou-lhe o professor. Pois eu discordo! Eu chamo-lhe alegria...
DB (9.º H)