Eu estava mais que aborrecido e não sei porquê, preocupado com algo. Subi as cordas de apoio e fui à gávea tentar falar com o Armando. Ele não é pessoa de muitas palavras, tento tirar o máximo possível de palavras da boca dele. No momento em que cheguei ao topo, o céu ficou cinzento e medonho, o mar calmo ficou violento e o vento amigo ficou inimigo. O Gama agarra no leme e com a velocidade de uma lebre roda-o para a esquerda e para a direita imensas vezes para tentar equilibrar o navio. O meu trabalho era recolher as velas, corri o mais depressa possível para as zonas do navio onde estavam os nós das velas, tentando não perder o equilíbrio. Desfazia os nós que prendiam as velas e o medo subia-me pelas veias, mas a coragem e a lealdade desciam-me pelas artérias e banhavam o meu corpo de adrenalina.
De repente tudo parou, das nuvens cinzentas saiu uma sombra, a sombra a que todos nós chamávamos de "O Fim". Grande, horrendo e medonho, era ele, o monstro que deu fim aos meus antepassados e agora a mim.
O Gama vai à proa, comunica com o Fim e dá a conhecer que gostaria de saber quem era a personagem a quem se dirigia. Paralisado junto com os meus camaradas, pouco a pouco descongelamos quando íamos ouvindo a história de um guerreiro, não um monstro, mas sim um guerreiro como nós que perdeu tudo pelo amor que nunca conseguiu.
As nuvens da tristeza e da solidão desfizeram-se e quando um raio de sol apareceu, apercebi-me que iríamos a todo o gás ao encontro de um rochedo. Eu, o único perto do mastro, e sem a autorização para mexer no leme, joguei-lhe a mão e rodei para a direita com uma força desconhecida. Foi quando me lembrei da minha mãe, dizendo e apelando para que eu não fosse, mas para honrar o meu pai tive de tentar e as últimas palavras foram para eu confiar em mim, nela, em Deus e, acima de tudo, nos meus antepassados. Foi nesse preciso momento que ganhei ainda mais força, no barco uns caíam, outros rezavam e outros, enfim, vomitavam. Quando as minhas forças falharam larguei o leme e caí, caí de exaustão e de dor por toda força exercida no leme.
Depois de acordar na cama, contaram-me que tinha salvado toda a tripulação e o Gama me tinha promovido a vice-capitão pela coragem e força demonstradas. Eu sorri e lembrei-me da minha mãe, uma recordação inesquecível. Voltei a fechar os olhos para dormir e esperar um novo dia cheio de aventuras.
Elzo Silva (9.º B)