Na sexta-feira, cheguei a casa cansado, era de noite. Estava tão desesperadamente cansado que nem vontade de comer tinha e fui dormir. O dia seguinte começava com uma maratona pela cidade, atividade que é levada a cabo todos os primeiros sábados de cada mês, e eu tinha que estar preparado para a empreitada. Não queria fazer feio.
Num troço do percurso, desci por uma rua que costumava estar cheia de movimento aos sábados de manhã. Era o dia do mercado municipal onde afluía gente de todos os bairros da cidade, que tiravam o dia não só para as habituais compras da semana, como também para assistir aos jogos de futebol nos botequins da esquina e dar um pé de dança na discoteca da moda.
No frenesim da reviravolta para não atropelar ninguém, encontrei o Francisco Sousa, um rapaz fixe e astuto, que ia no sentido oposto. Eu vi-o, mas ele parecia não querer ser visto. Apesar da tentativa de passar despercebido, consegui encará-lo. Porém, em vez das rotineiras saudações, o Chico recomendou-me, num tom de voz quase inaudível, que nunca nos tínhamos cruzado. Fiquei estupefacto, pois ficamos frente a frente por uns segundos. Tentei arrancar-lhe algumas respostas, mas o Francisco já nem me escutava, distanciando-se, cada vez com mais pressa, daquele local. Reparei então nas manchas de sangue que ele tinha nas calças. Teria assassinado alguém? Teria sido cúmplice de algum homicídio?...
Os meus pensamentos foram despertados pelo barulho de um grupo de pessoas que se aglomeravam à frente da discoteca da moda. Na berma do passeio, um carro da polícia e uma ambulância. Preferi não me intrometer e continuei a maratona.
Igor Paruque
11.º A1 - Oficina de Escrita