
António Vieira faz uma alusão a um pequeno peixe chamado Torpedo, cuja virtude é conseguir fazer tremer os braços dos pescadores. Contudo, afirma que existem mais pescadores na terra do que no mar e que a nenhum deles treme a mão ou o braço por pescar. Traduzindo esta metáfora, o que António Vieira queria dizer é que, no seu tempo, todos roubavam, dos mais insignificantes aos mais poderosos. Todos sem excepção. E o pior é que ninguém ficava com remorsos ou com a consciência pesada.
Hoje em dia, tristemente, acontece o mesmo em todo o mundo, desde roubos a lojas e a pessoas, passando por casas e bancos, até empresas e países: políticos que metem dinheiro do Estado ao bolso; patrões e chefes que criam empresas fantasma e/ou desviam dinheiro. Mentem, roubam e extorquem sem piedade, sem um pingo de vergonha na cara ou de remorsos. Vangloriam-se perante todos os outros, achando-se superiores e clamando as suas boas índoles, que nada mais são que despautérios sem valor, como lobos que vestem a pele de cordeiros para que ninguém desconfie da sua pérfida natureza.
No entanto, ainda não chega, pois a raça humana não pode, de modo algum, contentar-se com um só defeito.
O padre conta que Deus ouviu a prece de David, pedindo que lhe virassem os olhos ou para cima, para que pudesse contemplar o Céu, ou para baixo, para que pudesse ver o Inferno; desde que os seus olhos não tivessem de observar a vaidade dos homens. No tempo de António Vieira a vaidade prosperava; hoje em dia, a vaidade prolifera, deturpa e corrói a mente da humanidade.
As pessoas só pensam em comprar, ter e comprar mais. Dão mais valor aos bens materiais do que a elas próprias, já que existem pessoas a
preferirem viver no meio da rua, numa caixa de cartão e a usarem Versashi, Dolce & Gabana e outras marcas caras a viver instaladas numa boa casa, não ligando tanto à roupa.
Nós, seres humanos, autointitulamo-nos de seres desenvolvidos e em evolução, no entanto, passaram-se dezenas de anos sem que conseguíssemos corrigir os nossos defeitos. É, de facto, triste e desesperante. Contudo, talvez não estejamos perdidos de todo; afinal, nos dias que correm, podem já existir vários "padres Antónios" Vieiras e "Santos Antónios" que, neste momento, estejam a pregar aos peixes.
Sara Silva (11.º A1 - 2012/2013)