O recentemente reempossado presidente italiano, Giorgio Napolitano, conseguiu que Enrico Letta, braço direito do demissionário Bersani, formasse um governo de coligação com a direita do omnipresente Berlusconi, terminando o impasse iniciado há dois meses com as eleições de fevereiro, que não permitiram a formação de um governo maioritário em ambas as casas do parlamento italiano (Câmara Baixa e Senado). Bastou este anúncio para o alívio progressivo nos mercados especulatórios e uma diminuição dos juros exigidos à maioria dos países afetados pela atual crise das dívidas soberanas.

Infelizmente, a notícia não trouxe somente felicidade e alívio. Alguns Grillos, que, anteriormente, guiavam demagogicamente as formigas - que somos todos nós - e troçavam da nossa "paranoia" em pagar o que devemos, considerando como atitudes neoliberais ou mesmo "fascistas" o que o comum dos mortais entende como honra, justiça e hombridade, agitaram os seus acólitos fiéis, prometendo a instabilidade do novo Governo e a inevitabilidade de novas eleições, nas quais esperam mandato popular para governar...

Itália sempre foi - e continua a ser - uma nação particularmente pitoresca, especialmente no quesito político: após o governo de um primeiro-ministro que organizava festas com as amantes nas suas mansões insulares, a crise económica e social e a necessidade de consenso político levaram à indigitação de um tecnocrata, Mario Monti, como chefe de governo, no qual fez um excelente trabalho, saneando a função (pouco) pública italiana, cortando despesas supérfluas do Estado e promovendo uma auditoria geral às suas contas - o que já deveria ter sido efectuado em Portugal -, que descobriu casos do mais rocambolesco e, diria mesmo, dantesco que se poderá imaginar. Como, por exemplo, uma comissão para pagar reformas aos inválidos da guerra de 1866, vulgo Guerra de Unificação Italiana, que incluía motorista e secretárias, não fosse o Conde Cavour ter-se esquecido de alguma compensação a Garibaldi.

Mas, Monti tinha um grave senão: não era político, nem tinha personalidade para politiquices ou jogos partidários, o que levou a sua votação, nas passadas eleições, a não atingir sequer os 10 por cento, uma derrota esclarecedora da austeridade, segundo alguns, ou do bom senso do povo italiano, segundo outros. Ainda mais, quando aliado à subida vertiginosa da esquerda antieuropeísta.

Felizmente essa esquerda fracassou no passado fim-de-semana, quando um dos seus, o comunista Napolitano, anunciou o novo governo de centro. Felizmente fracassou. Felizmente para Itália, Portugal e Europa. Felizmente para a própria esquerda, que demonstra que, dentro de si, ainda existe alguma decência democrática, da qual foi, aliás, paladino no passado recente.

Não tenhamos dúvidas: o sul da Europa, no qual se inclui a Itália, encontra-se há muito endividado: de diversas formas e sob diversos programas, de diversos governos e diferentes ideologias, portugueses, espanhóis, gregos e italianos entregaram-se a uma política despesista, que os trouxe ao estado em que hoje estão: de mão estendida para os credores internacionais, obrigados a diminuir despesas e aumentar receitas com vista a tornarem-se excedentários e financeiramente viáveis.

E é isto que escapa a Grillo: as medidas contra as quais se coloca vão ao encontro de diversos estudos e previsões de órgãos europeus e mundiais, tentando os seus aplicantes, mormente, agradar aos povos dos respetivos países, enquanto equilibram as contas públicas. A sua aplicação é obrigatória e necessária, assim como é necessário colocar os demagogos e hipócritas que pululam na Europa no devido lugar: é sabido que os momentos de crise são, também, os mais fáceis para apelos vagos a independências, extremismos, fanatismo e até mesmo fanatismo, pelo que não seria de todo mal pensado responsabilizar criminalmente os políticos – e todas as figuras com responsabilidades públicas - aquando dos seus apelos à violência, à segregação ou à dissidência. No momento em que a Europa mais precisa de união, não nos podemos dar a este luxo!

Porque os Grillos deste mundo esquecem-se de uma coisa: em última instância, os credores têm a face e o queijo e a faca na mão, pelo que poderão sempre dizer a um aluno mais rebelde: "Ai cantavas? Pois agora dança."

Miguel Padrão (10.º A1 - 2012/2013)Miguel-Padrao

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