Contudo, o país do tubarão podre, dos vulcões espirrantes de lava e da língua imutável ao longo dos séculos foi, uma vez mais, destaque nesta semana, após as eleições, do passado fim-de-semana, expulsarem a esquerda do poder e reinstalarem no governo a direita, responsável pela crise recente.
O porquê desta decisão é, pelo menos para mim, desconhecido. Talvez se deva à continuação de uma oligarquia à frente dos maiores bancos e empresas públicas do país; talvez seja uma resposta às promessas não cumpridas pelos sociais-democratas; talvez o aparente crescimento do país não beneficie realmente os seus cidadãos; talvez a desvalorização da coroa islandesa tenha dificultado a vida aos islandeses, cujas importações e deslocações ao estrangeiro tiveram de ser repensadas; talvez...
Na mesma semana e apesar de algumas boas notícias, a situação generalizadamente descendente dos países europeus, em particular dos intervencionados, entre os quais Portugal, foi comprovada pela UE: além de um desemprego a roçar os 20 por cento na "Ocidental praia lusitana", a superar os 25 na pátria de Cervantes e no país de Homero, a recessão manter-se-á na Europa até, pelo menos, ao próximo ano. Desta forma, impõe-se-me questionar: porquê?
Sendo a Islândia um país tão similar a Portugal (pequenos, periféricos, isolados, com uma população que teve de recorrer à emigração para sobreviver), o que é que nos faz diferir tanto na visão da democracia, na assertividade da nossa ação democrática, na nossa educação proativa e na nossa responsabilidade cívica? O que é que permitiu à Islândia ter superado a crise e o desemprego em tão pouco tempo, enquanto Portugal e a Europa se mantêm no marasmo e no pântano? O que levou os islandeses a responsabilizar, criminalmente, os responsáveis políticos, a reescreverem a Constituição, a limparem o seu sistema político das sanguessugas partidárias e a reformularem toda o seu Estado em menos de cinco anos?
Serão os islandeses de outra matéria que não a apatia europeia ou apenas tiveram a vida facilitada por fatores que não atuaram nas restantes situações de resgate? Teria sido melhor possuirmos uma moeda própria, cuja (des)valorização controlássemos? Teria sido preferível nunca termos aderido à CEE? Deveríamos ter "batido com a porta" aos credores internacionais que participaram no nosso empréstimo, cujos juros usurários não permitem o relançamento da economia?
Talvez sim, talvez não. Mas o tempo não volta para trás, é inútil chorar sobre o leite derramado. O resgate já foi assinado, a adesão acordada, a moeda atualizada e, apesar dos pesares, a atual geração é a mais preparada, a nível de formação académica pelo menos, para lidar com a situação. Por isso, apenas nos resta, como diria uma das pessoas a quem estimo mais (não só pessoalmente, mas também ao nível da opinião sobre estes, todos os assuntos), "apanhar as canas" após mais de 20 anos a "deitar foguetes". E esperar, esperançosamente, que as próximas gerações consigam revolucionar a nossa sociedade, a nossa maneira de olhar o mundo e a nossa relação com o Estado. Que tenham estaleca suficiente para expelir os políticos atuais e responsabilizar os autores dos erros do passado.
Que, não deixando de ser portugueses, se tornem um pouco islandeses. O país agradeceria.
Miguel Padrão (10.º A1 - 2012/2013)