
Concretamente, falo da situação síria que, sucintamente, é um nó Górdio que ninguém deseja tentar desatar, mesmo face a massacres tão bárbaros e violentos como os das últimas semanas. Não considero pertinente atuar já contra uma ou outra fação conflituante, uma vez que ainda decorrem averiguações, por parte das autoridades competentes, com vista a apurar responsabilidades e a decidir qual a atuação mais correta. Contudo, também penso não ser de todo inteligente ser levado pelo histerismo coletivo que se apodera da sociedade, afirmando que os ocidentais não se devem "meter" nos assuntos que não lhes dizem respeito. Afinal, no mundo atual, cada vez mais globalizado, interligado e interdependente, nenhum país é uma ilha, ninguém sobrevive isolado, não existe isolamento possível face à crescente influência de certos lóbis, nem face às cada vez mais omnipresentes cadeias noticiárias que, graças ao Big Brother atual, tudo sabem instantaneamente, tendo inclusive poder para se imiscuírem nas vidas privadas de qualquer um, vasculharem os segredos mais classificados do interior da mais – supostamente - inexpugnável fortaleza ou intervirem em defesa dos seus interesses nas mais altas esferas globais. Deste modo, cada vez mais cabe ao cidadão, que se pretende informado e instruído, fazer o seu próprio juízo: como acima foi referido, nem tudo o que parece é; cada vez mais a intenção da comunicação social é moldar a opinião em vez de ajudar a criá-la, cada vez mais tendenciosas são as notícias que, anteriormente, primavam pela imparcialidade, cada vez menos são as personalidades desinteressadas que se mantém no mundo da informação. Sim, porque, convenhamos, são cada vez mais as declarações de interesse nos dias de hoje; cada vez mais influentes os grupos de pressão; cada vez mais difícil é a resistência a estes e cada vez menos são as notícias livres de uma mensagem implícita.
Assim, é cada vez mais importante o papel de uma sociedade civil crítica, com personalidade e que saiba questionar quando tal se exige. A inanição mediterrânica é, nestes casos, uma grande desvantagem, se não for mesmo uma caraterística a ser combatida: tem de se exigir aos políticos que cumpram as suas promessas, têm de se escrutinar as contas e os gastos de todos e, mais importante de tudo, tem de se refletir antes de se votar. Sim, ou não fosse o voto a arma do povo, este deve ser bem empregue: não devemos ser influenciados por contos do vigário, não devemos acreditar em promessas vãs e não podemos aceitar que uma política de farra, despesismo e desorganização seja seguida. Em nenhuma instituição, seja uma associação, uma escola, uma empresa ou um país. Sob pena de, quando descobrirmos qual o caminho que realmente trilhámos, já seja tarde demais para o inverter, para inverter a inevitável queda no abismo que espera uma instituição mal gerida.
Finalmente, há que relembrar as escolas: mais do que ensinar a tabuada, mais do que formar autómatos sem espirito crítico e desprovidos de substância intelectual, cabe às escolas um dos principais papéis na formação destes cidadãos, os futuros cidadãos. Assim, no mundo de hoje, urge formar cidadãos participativos, proativos, críticos e com uma mentalidade aberta. Cidadãos de futuro, prontos a enfrentarem os desafios do futuro. Porque, não nos iludamos, a História não tem piedade dos que se atrasam em futilidades. E nós não nos podemos atrasar, não mais uma vez.
Miguel Padrão (11.º A1)