somámos informação
Mas Perdemos afetos
Extinguiu-se a opinião
Como não me farto de repetir, habitamos num planeta cada vez mais globalizado, interligado e interdependente. É um lugar-comum que, 600 anos após o ténue primeiro passo de um processo que, hoje em dia, ultrapassa e influencia os nossos comportamentos, ações e mundividência, é impossível tomar decisões isoladas, não influenciar terceiros com os nossos atos, viver isolado do e dos que nos envolvem. Sempre foi deveras difícil afastarmo-nos da sociedade que, naturalmente, integramos, mas, nos dias de hoje, tal comportamento beira a impossibilidade. Num mundo ligado, conectado e sempre em mudança e em reboliço, no qual tudo se sabe instantaneamente - perdoem-me a incorreção científica - tornou-se impossível não integrar a extensa, omnipresente e influente teia social que se condensa constante e impetuosamente.
Contudo, esta é também uma teia que não segue as leis naturais: ao condensar-se, tentar apertar os laços, unir a sociedade, aproximar-nos mutuamente dos nossos patrícios e auxiliar o estreitamento das nossas relações com o mundo ao nosso redor, falhou clamorosamente. Subvertendo completamente o seu intuito inicial de tentar combater a indiferença, os vícios, os extremismos e os defeitos humanos, tornou-se numa feira de vaidades, num concurso de popularidade de reles proveitos para todos quantos não perspetivem para o seu futuro a emulação das supostas "virtudes" e "qualidades", tão amplamente divulgadas na podridão que alguns apelidam de social.
É certo que, antes de criticar esta vil corrupção, há que, primeiro, analisar todas as envolventes do processo, para o podermos mais facilmente combater e minorar. Ora, ao invés de outras problemáticas que já aqui abordei - e cujos motivos são assaz complexos e intrincados -, nesta situação não creio tratar-se de mais do que uma causa e uma solução. Causa essa muito velada, isso sim, por pomposos e complexos pretextos, mas de mor importância no nosso futuro coletivo, não só como Nação ou Estado, mas até mesmo como Sociedade: o gritante desaparecimento dos Valores inerentes a uma vivência coletiva saudável, ultimamente esbatidos pelo "pseudo-modernismo" dominante.
Deste modo, valor por valor, princípio por princípio, pedra por pedra, todo o edifício moral de que tanto nos orgulhávamos foi, lenta e sub-repticiamente, desmantelado no passado recente. A degradação generalizada da sociedade é por demais evidente e deve ser combatida: como se permite a colocação de fotografias de artistas em poses duvidosas, músicos a consumir substâncias ilegais ou figuras públicas a promover atos de violência, em locais de tão fácil acesso às gerações mais novas, cuja consciência moral ainda se encontra em formação?
Como se podem perseguir publicamente figuras públicas por detalhes da vida pessoal, pormenores de uma qualquer relação ou por qualquer pequena falha ou gaffe cometida, esperando-se, assim, obter mais sucesso de vendas com os segredos de terceiros, as desgraças alheias ou o espalhafato jornalístico? Como poderemos não culpar uma sociedade podre, oca de princípios e moral e uma globalização desregrada e demasiado acelerada, pela situação a que chegámos? Como podemos fechar os olhos à degradação das gerações mais novas, à sua perdição em álcool, drogas e outros que tais? Como podemos enterrar a cabeça face ao exagerado poder que diversas figuras, muitas vezes irresponsáveis e mal intencionadas, têm vindo a ganhar, principalmente nas redes sociais, e que usam para transmitir mensagens dúbias?
Escrevei o que digo: se não se corrigir, o Homem será a causa final da sua própria perdição - homo homini lupus - e esta perdição não será ecológica ou bélica. Será moral.
Ninguém nos dirá tal blasfémia - como também ninguém preveniu os Romanos do seu declínio orgiástico - até ser tarde demais, até ao nosso crepúsculo ser inevitável e a podridão tão gritante, que por decerto nos saltará à vista. Mas aí, aí será tarde demais.
PS- Os meus parabéns à Associação de Estudantes: finalmente conseguiram a sala que vos competia, como legítimos representantes dos estudantes. Espero apenas que todos leiam as flavescentes letras que colocaram na porta e as saibam interpretar. Para mais, votos de um –agora sim - início de bom trabalho.
Miguel Padrão (11.º A1)