web utopiaNos dias de hoje, uma teoria com grande aceitação na comunidade científica propõe a existência de múltiplos universos paralelos, possivelmente acessíveis graças a passagens cósmicas, buracos negros ou outras "pontes" intergalácticas - ou, diria melhor, "interuniversais". Sim, de facto, esta teoria, profundamente enraizada na cultura popular como o eventual zénite da ficção científica - viagens no tempo e a velocidades próximas da da luz estão inclusas -, tem fundamentos nos principais pilares da física moderna, pós-Einstein. Ao invés, porém, da grande maioria das propostas mais utópicas com as quais a Ciência nos tem brindado, esta é mais bem-vista por homens da ciência do que pelo comum dos cidadãos.

Certamente, esta constatação poderia levar-nos a imaginar mil e um cenários diferentes e explicativos desta desconfiança popular, não fosse lembrarmo-nos da realidade com que coexistimos. E aí, de facto, facilmente percebemos que a cegueira que, neste caso, nos aflige é sistemática, afetando, transversalmente, todos os povos, culturas e sociedades à face do Globo (perdoem-me a hipérbole, mas são realmente poucas as exceções a esta triste regra).

Assim, como estranhar que o cidadão comum desconfie da existência de universos paralelos e compartimentados quando ele próprio não se consegue aperceber da exclusão a que, lenta mas inexoravelmente, se vota? Como poderemos querer que creia noutros "mundos" quando cada vez mais nos fechamos numa Singularidade Tecnológica que nos mantém instantaneamente - outra hipérbole, mas menos flagrante que a primeira - conectados ao resto do mundo, é certo, mas a um mundo crescentemente digital, virtual e cibernético?

Há 500 anos, Thomas More escrevia "Utopia" uma das obras-primas da literatura do século XVI e a principal introdutora do termo que lhe serve de título no léxico comum. Sinónimo de sonho inatingível ou irrealizável, devaneio ou quimera, não é de todo difícil encontrar discursos, ideias ou sistemas utópicos, tanto nos dias de hoje como no decorrer da história.

O interessante e curioso é a tendência que todos nós, Homens, temos de crer na sua materialização futura e credibilidade. Deste modo, apesar de tremendamente vantajoso em doses regradas, a fantasia e o devaneio são profundamente prejudiciais, especialmente para o espírito crítico, quando em excesso. Mais não seja pela tendência de se associar com a demagogia, criando um fértil pasto para o crescimento de extremismos e radicalismos, tornando-se rapidamente numa Distopia.
Afasto-me bruscamente, contudo, do tema- e extensão - a que me propus. Consequentemente, termino a alertar para os perigos da informatização e virtualização excessiva: parecendo que nos globalizamos, estamos a ostracizar-nos. Pensando que abrimos os nossos horizontes, continuamos a estreitar o nosso "mundo" físico, em detrimento do virtual. A tecnologia é brilhante, ajuda e facilita grande parte das tarefas do nosso dia-a-dia, mas pode também tornar-se perigosa como instrumento de cisão das sociedades e de desagregação das comunidades.

Porque, acima de tudo, o virtual é deveras interessante, enriquecedor e estimulante. Mas, em caso de necessidades, ninguém comerá cassetes.

Miguel Padrão (11.º A1)Miguel-Padrao

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