De quem é a culpa? Dos fracassados programas de prevenção? Da abordagem dos ditos "especialistas"? Da falta de objetivos de vida por parte dos jovens? Da educação e formação que competiria, principalmente, aos pais dar? Da crescente pressão de grupo, por parte de amigos e conhecidos, num desastroso efeito dominó? Ou, puramente, da normalização de tais atos na comunicação social, em espaços públicos e nos restantes locais de mais fácil acesso por parte dos jovens?
Muito embora nos encontremos rodeados de ruído de fundo, de falsas premissas e de interesses sub-reptícios, urge refletir sobre esta problemática, sob perigo de nos tornarmos, inexoravelmente, um gueto de vícios e de desperdiçarmos todo o potencial de uma geração.
Deste modo, podemos desde já aferir que os eventuais culpados se dividem em três grupos: os próprios adolescentes, a família e as restantes instituições da sociedade. Também facilmente se concluirá que nenhum dos três pode ser visto como uma esfera isolada, mas, sim, todos devem ser melhorados, alterados e reforçado como parte das indissociáveis esferas que compõem a formação física e psicológica dos jovens.
Assim, visto que muito facilmente se pode confirmar a complexidade da tarefa - verdadeiro ato hercúleo nos dias de hoje -, devemos passar à discussão dos motivos desta, aparentemente, imparável perdição. E aqui, facilmente, surge uma miríade de fatores, já acima referidos sob forma de questão, mas que não custam repetir e especificar.
Primeiramente, há que culpar a apatia dos governos e governantes nacionais e locais, cuja preocupação com a gritante situação beira o nulo e cujos planos de combate a tal flagelo são inexistentes. Infelizmente, observa-se que há quem se deite descansado, sabendo que a sua inércia pode estar a custar diversas vidas humanas diariamente. Contudo, a responsabilidade governamental deve ser mínima, em particular quando comparada com a "Trilogia Trágica" que, de seguida, enuncio e cujo fracasso põe em causa todo o combate a esta aterradora praga.
Jovem, Família e Escola. Sem estes três elos, todo e qualquer esforço para melhorar a situação em causa - aliás, todo e qualquer esforço para corrigir qualquer falha que o processo de crescimento invariavelmente implica – será, certamente, inglório. Isto, antes de cair no caixote do esquecimento absoluto, como, aliás, caem todos os que, com ele, não conseguem lidar.
O Jovem, como foco e interessado, é o primeiro e mor cavaleiro no nosso tabuleiro. É ele e só ele que poderá saltar sobre o inimigo que a ameaça tragar; é ele e só ele que pode, independentemente, determinar o sucesso ou insucesso da terapia. Logo, a sua força de vontade é, certamente, o maior e mais importante ingrediente na receita a preparar. Principalmente, é ele que deve tomar, de forma independente - se bem que com apoio - a decisão final. Sem ela, todo o esforço das mais diversas entidades, pessoas ou instituições será infrutífero. Mas, regra geral, esta força de vontade, perseverança e noção do moral ou imoral e do certo ou errado não nasce por geração espontânea, necessitando o jovem em questão de um imenso apoio exterior, que apenas a Família poderá conceder. Infelizmente, não são incomuns os casos de jovens que, por culpa própria ou por fatores extrínsecos, se afastam dos membros do seu núcleo familiar ao ponto de inviabilizar qualquer diálogo. Aqui está a crítica que dirijo aos pais, tutores e encarregados: não permitam esse cisma! Mantenham ativos os laços com os vossos filhos! Não se apartam da sua vida - pessoal e escola - ao ponto de aparentarem não possuir qualquer interesse nos Homens e nas Mulheres que trouxeram ao Mundo! Acima de tudo, dialoguem, mantenham abertas todas as portas de entendimento, procurem um espírito aberto e suficientemente liberal para não restringir algumas das vontades dos vossos filhos! Afinal, acima de tudo, há que tolerar o próximo se desejamos ser tolerados por ele. E, como diz o ditado popular, "O fruto proibido é sempre o mais apetecido": restrições infundadas e sistemáticas podem levar a um afastamento e à procura de caminhos alternativos - em regra, mais perigosos - por parte do adolescente, cujo espírito de desafio da autoridade imposta está mais ativo do que nunca.
Finalmente, a Escola. Que, mais do que grandes alunos, se deve preocupar em formar grandes Homens: mais do que mestres em álgebra, física ou gramática, é primordial formar em todos os alunos uma consciência moral forte e independente. Aliás, resumindo, há que formar cidadãos com capacidade de livre-arbítrio, ao invés de focar os seus esforços na formação de frios técnicos, advogados sem ética ou médicos sem moral. E, neste tema, a Escola também tem um importante contributo a dar. Não só punindo exemplar - mas justificadamente - os transgressores, mas também reforçando o papel na formação moral dos seus alunos e tentando reforçar ao máximo os vínculos com os encarregados de educação e pais, com o único objetivo de fortalecer o "guarda-chuva" protetor de que todo e qualquer jovem necessita ao longo do seu projeto de crescimento, sem, no entanto, tentar virtualizar e resguardar excessivamente o jovem, mas, sim, concedendo-lhe o devido espaço para crescer e desenvolver todo o seu potencial.
O melhor caminho para o coração é a mente; neste caso, passa-se o mesmo. A força bruta, extorsão ou o condicionamento das escolhas jamais permitirão combater, efetivamente, este monstro. Só o diálogo e a concórdia, de parte a parte, poderão resolver este flagelo, antes que tome proporções inimagináveis. Temos de começar, urgentemente, esta mudança, sob pena da nossa negligência ser a coveira da esperança e da alegria desta geração. Ontem, ontem já era tarde!
Miguel Padrão (11.º A1)