lamuraUm ano depois de ter sido lançado em Lisboa, Portugal, o livro de estreia da escritora e artista plástica moçambicana, Suzy Bila, voltou a ser objeto de encontros e reencontros entre amigos, familiares e amantes da literatura infantojuvenil. Ontem, “Lamura” ganhou outra vida, desta vez em Maputo, numa cerimónia de lançamento que se integra nas comemorações do centenário de José Saramago e do 23.º aniversário da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP).

“Lamura” é inspirado em acontecimentos verdadeiros, mostrando como o poder da palavra no imaginário fértil de uma criança desvaloriza o tamanho dos obstáculos e faz surgir do nada o significado da liberdade – essa tónica que desperta e revitaliza a obra de Saramago, trabalhada agora por alunos do pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico, tanto na construção da passarola voadora , como na exposição patente no átrio central da Escola. Mostra, ainda, alguns dos problemas políticos e sociais contemporâneos que merecem um olhar amplo e uma resposta urgente para a construção de uma sociedade mais humanizada onde todas as crianças possam usufruir plenamente dos seus direitos.

A obra foi adotada como livro de leitura pela EPM-CELP para alunos do 8.º ano. Por isso, para Luísa Antunes, presidente da Comissão Administrativa Provisória da Escola, a narrativa desencadeia, em si, uma série de reflexões sobre os sonhos e os direitos das crianças. “Lamura” é um menino que cresce à volta da fogueira ouvindo estórias contadas pelo pai.
lamura 3É através destas que o seu mundo ganha novos horizontes, pois cada palavra nova leva-o a pensar o desconhecido. Metamorfose é uma palavra mágica que abre no seu imaginário gavetas onde as respostas para as suas inquietações estão ainda escondidas.

“É um livro que incide muito sobre os valores e direitos humanos, sobretudo das crianças. Trata também de uma coisa muito importante: a capacidade de sonhar. As crianças, independentemente da violência e da vida que têm, possuem uma capacidade extraordinária de inventarem o mundo, de sonharem e de terem esperança. Portanto, este é um livro de esperança”, disse Teresa Noronha, responsável pelo setor de publicações da EPM-CELP, durante a apresentação da obra.

Em “Lamura”, Suzy Bila usa a escrita e a pintura para exteriorizar o seu estado de espírito. “Este livro nasce de uma insatisfação sobre a situação de exploração infantil”, disse a escritora em testemunho gravado e projetado no espaço do novo refeitório da EPM-CELP, sublinhando que “queria que as crianças percebessem que os problemas relacionados com os seus direitos não podem ser ignorados. É isso que quero lembrar: a liberdade. A liberdade para poder brincar, crescer livremente”.
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Suzy Bila, pseudónimo de Maria Suzete Carmona Bila nasceu em Maputo, em 1974. Desde 1996 que vive em Lisboa, tendo feito a sua formação artística no AR.CO, Centro de Arte no qual criou a sua própria entidade artística. Apesar da mudança de continente, não rompeu com as suas raízes, pois admite ter “as influências artísticas tradicionais do meu país de origem”.
pass pUm pássaro gigante suspenso logo na entrada do novo refeitório, pelo portão 4, transmite, pela variedade de cores, significados diversos. É africana, de papelão e tem como base de suporte uma rede de galinheiro e asas de diferentes cores feitas com retalhos de capulanas. Ao redor, sonhos – escritos e assinados - se espelham pelo espaço. Há desejos de todo o pré-escolar expostos. Uns querem voar, conhecer a lua, outros lugares, outros desafios, como seus pais e heróis. Outros querem ser melhores guardiões das suas cidades, do mundo, como polícias, militares, ou serem bailarinos, artistas da vida e da arte. Os sonhos são diversos, mas o objetivo é único: colorir o mundo de atitudes positivas.

É essa a mensagem que procura transmitir a passarola voadora, ontem inaugurada, no recinto da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) feita por 156 crianças das oito salas do pré-escolar por ocasião das celebrações do centenário de José Saramago e do 23.º aniversário da Escola, este ano sob o lema “Flores de todas as cores”.

A ideia da passarola voadora, de acordo com os organizadores, surge “pela sua particularidade de se alimentar de vontades, de desejos, de sonhos”, imaginários e/ou reais. Pedagogicamente, para além do estímulo do faz-de-conta (através do qual a criança desenvolve a criatividade, interage com o mundo e desenvolve física, emocional e socialmente), pretende-se, com este trabalho, transmitir às crianças a importância de darem asas à imaginação, de acreditarem na força que cada uma tem dentro de si e de sonharem, sempre”, explica a equipa.

O desafio foi realizado durante cinco dias, em contexto de sala de aulas, sempre aliando interações e muito engenho entre alunos, educadoras e auxiliares do pré-escolar. Os pais e encarregados de educação contribuíram somente com capulanas para a construção das penas e asas da passarola. “As crianças têm uma capacidade enorme de sonhar sem limites que devemos estimular, lembrando que o sonho comanda a vida e que a força do querer concretiza sonhos. E assim foi, demos asas à imaginação, unimos esforços, trabalhamos juntos em equipa e contruímos a nossa passarola africana que, alimentada com tantos sonhos bonitos, voou…”.

A passarola continua lá, suspensa, a sustentar e a alimentar sonhos desses meninos. Ninguém ainda sabe o seu destino, mas, enquanto lá estiver, continuemos todos a visitá-lo e a reconstituir os sonhos.

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